A Escalada da Violência no Futebol
Publicação no diário de Santa Maria do dia 11/02/2025
2/12/20252 min read


No dia 1º de fevereiro, testemunhamos mais um episódio lamentável de violência no futebol brasileiro, desta vez entre torcedores do Santa Cruz e do Sport. Infelizmente, confrontos entre torcidas organizadas tornaram-se uma realidade corriqueira em nosso cenário esportivo. O elemento mais chocante desse episódio, contudo, foi a brutalidade extrema do ocorrido: uma das vítimas foi despida, empalada com uma barra de ferro e violentamente agredida a chutes, enquanto tudo era registrado em vídeos que rapidamente circularam pela internet.
Esse evento nos leva a reflexões urgentes sobre a violência que permeia o futebol e que, alarmantemente, tem escalado em nível e crueldade, apesar das medidas adotadas pelos clubes e autoridades. A primeira questão a ser analisada diz respeito à ineficácia das soluções convencionais. A proibição de torcidas organizadas e as punições impostas aos clubes não têm surtido efeito duradouro na contenção da violência. No máximo, tais medidas promovem uma redução temporária dos episódios, mas, em pouco tempo, o cenário retorna ao mesmo estado de barbárie, com agressões e até mortes associadas às rivalidades esportivas.
A segunda questão fundamental refere-se à motivação desses atos violentos. O que leva indivíduos a se deslocarem até um estádio de futebol—um evento que demanda tempo, energia e recursos—para se envolverem em confrontos brutais? A violência que explode durante as partidas não se origina ali, naquele instante. Ela é sintoma de uma violência latente, cultivada ao longo do tempo e extravasada no ambiente esportivo, onde há um pretexto para sua manifestação. Sem um olhar aprofundado sobre essa questão, qualquer tentativa de conter a violência no futebol será meramente paliativa.
Estudos sociológicos e criminológicos apontam que contextos de violência tendem a reproduzir e perpetuar estruturas violentas como estudou Bourdieu e Zaluar. O fato de agressões tão extremas ocorrerem no futebol indica que os espaços de socialização desses indivíduos estão profundamente marcados por elementos violentos, seja na comunidade, na família ou nos círculos de convivência. Não se trata, evidentemente, de vitimizar os agressores. O Estado possui legislações que regulamentam a questão, e essas leis devem ser aplicadas de maneira rigorosa. Contudo, no que tange à contenção da violência no futebol, estratégias preventivas devem ser consideradas.
Um primeiro passo pode ser o mapeamento das regiões de origem dos indivíduos envolvidos nesses episódios, permitindo uma compreensão mais ampla dos fatores sociais que alimentam esse comportamento. Em um segundo momento, seria possível implementar estratégias de intervenção, como políticas públicas voltadas à redução da violência estrutural, projetos de inclusão social e programas educativos que reforcem valores como respeito e convivência pacífica.
A violência no futebol não é um fenômeno isolado, mas sim um reflexo de uma sociedade marcada por desigualdades e tensões. Medidas repressivas isoladas podem conter a fúria momentaneamente, mas apenas abordagens integradas—que combinem rigor na aplicação da lei com ações voltadas à transformação social—terão o potencial de mitigar, de forma efetiva, a brutalidade que se manifesta nos estádios e fora deles.