A Fragilidade Científica do Utilitarismo: Uma Análise Crítica
2/19/20252 min read


Em certos debates nos quais eventualmente me envolvo, identifico alguns cuja pertinência parece datada, não em virtude de uma falha lógico-racional intrínseca, mas pela ausência de um diálogo renovado que os sustente. Entre esses, destacam-se as discussões em torno das teses utilitaristas, frequentemente mobilizadas como argumentos filosóficos no direito, na política e na economia. O utilitarismo, em sua formulação clássica, baseia-se na premissa de que o comportamento humano pode ser explicado por uma análise custo-benefício, entendida como suficiente para justificar as ações individuais. Assim, toda ação seria motivada pela expectativa de maximização de benefícios e pela percepção de um saldo positivo. Quando, porém, os resultados revelam mais prejuízos do que ganhos, atribui-se o desvio a uma falha na compreensão da realidade, o que preservaria a validade da lógica utilitarista, mesmo diante de dificuldades na observação concreta da realidade.
Todavia, essa perspectiva enfrenta sérios desafios quando submetida ao crivo dos estudos comportamentais, sobretudo sob a ótica científica. Em primeiro lugar, o utilitarismo apresenta uma estrutura explicativa tautológica, pois se dispõe a justificar tanto os casos em que suas previsões se confirmam quanto aqueles em que falham, moldando as observações do analista a posteriori. Essa característica, por si só, configura uma fragilidade metodológica, já que inviabiliza a falsificação do postulado e, consequentemente, enfraquece sua legitimidade científica.
Além disso, pesquisas comportamentais têm demonstrado que a tomada de decisão humana está mais fortemente vinculada a experiências e escolhas passadas do que a uma lógica racional deliberada no momento do evento. Em última análise, a análise de padrões comportamentais permite a construção de tendências futuras, oferecendo explicações mais robustas e empiricamente fundamentadas sobre as ações individuais.
Ademais, estudos de neuroimagem apontam para a existência de um "gap temporal" entre a efetiva tomada de decisão e a consciência dessa decisão, isto é, entre a ação e sua subsequente racionalização. Nesse sentido, a lógica de custo-benefício como justificativa para a ação é frequentemente construída a posteriori, após a ocorrência do ato concreto, e não como parte do processo decisório antecedente ou concomitante à execução da ação.
Dessa forma, as teses utilitaristas, enquanto modelos explicativos da realidade, carecem de sustentação científica sólida, ainda que seus efeitos práticos permaneçam amplamente observáveis. No campo jurídico, a premissa utilitarista frequentemente orienta a formulação de sentenças e julgamentos. Na economia, diversas abordagens a utilizam para delinear estratégias e políticas econômicas. Na política, influencia a formulação de políticas públicas e preventivas. Portanto, embora o utilitarismo esteja sendo progressivamente eclipsado pelas descobertas científicas contemporâneas, seus impactos sociais e políticos continuam a ser notavelmente evidentes.