Da Crise à Oportunidade

Artigo sobre as enchentes no RS publicado no Diário de Santa Maria no dia 21/05/2024

1/1/20252 min read

Da Crise à Oportunidade

O recente cataclismo das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, causando prejuízos incommensuráveis, destacou-se especialmente na região metropolitana de Porto Alegre. Este desastre põe em evidência uma crise não apenas ambiental, mas também de liderança e preparação. A resposta política à catástrofe, particularmente em Porto Alegre, revelou-se flagrantemente ineficaz. A incapacidade de prever e gerenciar a elevação das águas, a despeito dos avisos climáticos claros oriundos da região central, reflete um nível alarmante de amadorismo entre os gestores públicos, tanto estaduais quanto municipais.

É imperativo que, daqui para frente, transcendamos os meros embates políticos para fundamentar decisões em evidências científicas robustas. Não podemos mais ignorar as previsões do aquecimento global, como ilustrado pelo relatório "Brasil 2040" de 2015, que antecipou as adversidades atuais mas foi descartado por ser considerado "alarmista". Ademais, relatórios científicos subsequentes, incluindo um emitido em abril deste ano, foram igualmente negligenciados. A ciência tem previsto estas crises e repetidamente alertado sobre elas; é crucial que a política abandone os confrontos ideológicos e passe a integrar tais conhecimentos em seu planejamento e ação.

Além da necessária mudança de paradigma na integração entre política e ciência, é vital desenvolver projetos e investimentos que abordem a questão das enchentes de maneira tecnicamente apropriada e em constante diálogo com a comunidade afetada. Grandes obras podem trazer benefícios coletivos significativos, mas também impõem custos sociais, como desapropriações e transposições de comunidades. Esses aspectos demandam uma abordagem que equilibre técnica e sensibilidade social.

Adicionalmente, enfrentamos um gargalo significativo na licitação e gestão de obras públicas, o que eleva os custos e prolonga os prazos de execução, em um momento em que o clima nos impõe a necessidade de ações rápidas e eficazes. Urge uma reforma na maneira como a política pública é concebida e implementada, abandonando um modelo maniqueísta e contraprodutivo em favor de uma abordagem mais organizada e propositiva.

Em resumo, diante do cenário agônico que presenciamos, há uma oportunidade imperdível para que a crise atual catalise uma transformação política positiva, fundamentada em princípios de governança ágil, responsiva e cientificamente informada.