O Declínio da Leitura no Brasil

Artigo publicado no Diário de Santa Maria no dia 25/03/25

Marcio Medeiros

3/27/20252 min read

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um declínio acentuado no número de leitores. Em 2024, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil revelou que, em um intervalo de quatro anos, o país perdeu 6,7 milhões de leitores. Pela primeira vez, o percentual de pessoas que não leram sequer uma página de livro superou o dos que leram, atingindo 53% da população. Esse dado evidencia uma erosão profunda e acelerada do hábito da leitura na sociedade brasileira.

A questão central nesse debate não se limita apenas à redução do número de leitores, mas, sobretudo, às perdas cognitivas e sociais resultantes desse fenômeno. A leitura, além de ser um meio de aquisição de conhecimento, desempenha um papel essencial no desenvolvimento de diversas habilidades cognitivas fundamentais. Ao ler, o indivíduo amplia sua capacidade de comunicação e expressão, enriquecendo seu repertório linguístico e potencializando sua compreensão do mundo. Além disso, a leitura estimula a imaginação, uma vez que o leitor precisa construir mentalmente as imagens do que está sendo descrito no texto, o que fortalece sua criatividade. Outro aspecto crucial é a capacidade de compreensão profunda e análise crítica proporcionada pela leitura atenta, que contrasta fortemente com a lógica acelerada e dispersiva das redes sociais. Diferentemente do consumo fragmentado de informações nessas plataformas, a leitura exige concentração, promovendo um pensamento mais reflexivo e estruturado.

Dessa forma, a queda do número de leitores não é um problema meramente estatístico, mas sim um sintoma de um impacto mais amplo na formação intelectual e profissional da população. Essa realidade se agrava quando observamos o dado alarmante publicado pela revista The Lancet neste ano, segundo o qual a principal causa do declínio cognitivo no Brasil é a falta de escolarização, superando qualquer outra comorbidade.

É importante ressaltar que esse cenário possui um recorte de classe bastante evidente. O acesso à leitura e à educação de qualidade nas camadas mais populares é substancialmente inferior ao das classes médias e altas. Esse quadro está diretamente relacionado à ausência de políticas públicas eficazes voltadas para a criação de ambientes propícios à educação e ao incentivo à leitura em comunidades menos favorecidas.

Parte desse fenômeno pode ser atribuída ao crescimento das redes sociais e das tecnologias distrativas, que competem constantemente pela atenção dos indivíduos. No entanto, há também um problema estrutural: a falta de incentivos e a desvalorização da leitura como um bem social indispensável ao pleno desenvolvimento humano. A consequência desse processo é uma sociedade que lê cada vez menos, se desenvolve intelectualmente de maneira limitada e enfrenta um aumento progressivo de comorbidades associadas ao declínio cognitivo.